Extratos da nossa reunião de 08 de fevereiro de 2015



PALAVRA DO PRESIDENTE:
"O PONTO DE PARTIDA
PARA UM NOVO COMEÇO"

Prof. Leonardo Prota
O ponto de partida para um novo começo, tão necessário para realizar uma mudança que oriente o novo rumo que nossa sociedade exige para sairmos do caos em que nos encontramos, parece ser uma reflexão sobre o papel da família, que a seguir propomos.

Dentre os seres vivos, o ser humano é o mais dependente ao nascer. Ele precisa de tudo para ter condições de manter-se vivo. 
Tratando-se de ser humano, simplesmente manter-se vivo não é suficiente. Ele sente necessidade de transcender a natureza para entrar no mundo da cultura, da construção de sua personalidade, da descoberta de outros seres semelhantes que vivenciam esse mundo construído em valores, em outras palavras, ele sente a necessidade de dar sentido à própria existência. Aqui sua dependência torna-se sempre mais acentuada. 
Quem tem o dever e a responsabilidade de cuidar de um ser humano tão desprotegido e tão dependente? O primeiro grupo ao qual o ser humano pertence, denominado de família, é que deve oferecer os cuidados necessários para que esse novo ser encontre o caminho de sua sobrevivência e de sua realização. 
Esse primeiro grupo pode ser identificado como a família nuclear tradicional, o que seria desejável; como também pode ser constituído por mães e pais solteiros ou separados, que assumem a responsabilidade do cuidado dos filhos. Em ambos os casos, as funções da família não mudam. A necessidade de um vinculo familiar é essencial para a proteção e a socialização de uma nova vida que vem ao mundo. 
A família, portanto, independentemente de sua estrutura, é o lugar indispensável para garantir o desenvolvimento e o bem-estar dos seus membros. Ela desempenha um papel decisivo na formação da personalidade, na vivencia de valores e no aprofundamento de laços de solidariedade.  
A fim de proporcionar uma adequada compreensão das funções da família, na próxima reunião abordaremos os seguintes tópicos: 'O significado da experiência moral'; e 'Dimensões constitutivas da pessoa'.
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OS ESTATUTOS DO HOMEM
 (Ato Institucional Permanente)
De Thiago de Mello

Apresentação pela Acadêmica e poetisa Leonilda Yvonneti Spina
 
                         
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade,

agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
 
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
 
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
 
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
 
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
 
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
 
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
 
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
 
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
 
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
 
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
  
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
 
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
 
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
 


O poema foi declamado sem a enumeração dos artigos e parágrafos. Ele foi escrito em Santiago do Chile, onde o poeta era Adido Cultural da Embaixada Brasileira. Foi criado logo que Thiago leu o primeiro ato institucional da revolução de 1964. Foi publicado em mais de trinta idiomas e tornou-se um lema em favor da dignidade, da liberdade, não só dos brasileiros, mas daqueles que vivem sob a ditadura.
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 Apresentação de música de câmara

 Tivemos o privilégio de contar com música de alta qualidade neste domingo, com três artistas apresentando belíssimas peças, entre clássicas e popular brasileira: Alexandra Banachi (piano e voz), Pamela Portela (flauta transversal) e Denise Durello (violino). A apresentação veio enriquecer nossa reunião.
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Os professores Ênio (à esquerda) e Freeman
 Palestra em latim!

Recebemos em nossa Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina, a visita do Prof. Nathan Freeman, norte-americano em visita à cidade, onde veio dar um curso rápido de conversação em latim. Freeman tem 34 anos, cursou línguas clássicas e germânicas na Universidade de Kentucky e conhece sete idiomas. Acompanhado do Prof. Ênio José Toniolo que traduzia suas falas, Freeman fez uma apresentação breve inteiramente em latim, abordando a importância da língua, sua intercorrência no idioma português e nos de outros tantos países... e ressucitou nos presentes a lembrança, já esvanecida, de um aprendizado que a maioria de nós teve em priscas eras no curso ginasial, quando o latim era matéria obrigatória. 
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Uma análise sobre as deficiências da formação médica

Acadêmico Dr. José Ruivo
O Acadêmico Dr. José Ruivo, também ele médico, apresentou um rápido quadro levantado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo, que mostrou 55% de reprovados na recente prova de capacitação dos médicos recém-formados. Curiosamente, 66% dos reprovados vieram de faculdades de medicina particulares e 33% de faculdades públicas. O Dr. Ruivo analisou a falta de hospitais-escola nas faculdades, o que inviabiliza a observação de doentes e consequentemente o próprio estudo da Medicina. Segundo o Dr. Ruivo, não é apenas no Brasil que essa deficiência de ensino ocorre, o mesmo se dá também em Portugal. Essa falta de formação resulta em tantos erros médicos e no comportamento inadequado frente aos pacientes. 
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“Juan Ramón Jiménez: um prêmio Nobel da literatura espanhola e sua poesia em movimento”


A palestrante
Profa. Dra. Maria
Auxiliadora Franzoni

A Profa. Dra. em Letras, Maria Auxiliadora Franzoni, apresentou palestra enfocando o poeta espanhol Juan Ramón Jiménez (nascido em Moguer, Huela, em 23 de dezembro de 1881 e falecido em San Juan, Porto Rico, em 29 de maio de 1958), intitulado "o poeta da decadência". 

Em 1900 foi morar em Madrí e publicou seus dois primeiros livros de textos, Ninfeas e Almas de violeta. A palestrante selecionou algumas poesias de acordo com o que elas de melhor representam a mundivisão do  grande poeta que as escreveu. A poesia de Jiménez é extremamente sugestiva em imagens - e até em citações de grandes pintores, o que ele faz com a intenção exata de melhor nos fazer entendê-la.
Dr. Luis Parellada

En 1936 estoura a Guerra Civil Espanhola. Jiménez apoia decididamente a República, mas se sente inseguro em Madrid, quando o jornal socialista Claridad empreende campanha contra os intelectuais. Acaba indo morar em Porto Rico, em 1950.
En 1956 a Academia Sueca lhe outorgou o Prêmio Nobel de Literatura por sua obra Platero y Yo. Entretanto, três dias antes sua esposa faleceu em San Juan, o que fez com que o poeta jamais recebesse pessoalmente o prêmio, permanecendo em Porto Rico.
A Professora comentou algumas das poesias, analisou-as e apresentou uma gravura por ela produzida e relacionada à obra do poeta.

Complementando a apresentação da palestrante, o médico Dr. Luis Parellada, espanhol de nascimento, leu poesias no idioma original do poeta, enriquecendo a apresentação de alto nível da Profa. Dra. Maria Auxiliadora Franzoni.

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A VISÃO SISTÊMICA DA VIDA

O Acadêmico Sergio Alves Gomes fez uma breve intervenção destacando o prefácio do livro
 “A VISÃO SISTÊMICA DA VIDA: Uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas”, de autoria de FRITJOF CAPRA e PIER LUIGI LUISI, (Editora Cultrix, S.Paulo, 2014).
Na sua breve palestra destacou, ao falar sobre a obra, as palavras de OSCAR MOTOMURA (fundador e diretor geral do GRUPO AMANA-KEY, uma organização focada em inovações pela raiz de organizações complexas da área pública e privada) que diz, textualmente, no Prefácio à edição brasileira:
 “Trata-se de uma obra de referência para todos que estão em busca de soluções sustentáveis para os graves problemas causados pelo modelo mental mecanicista e reducionista. Para líderes que querem construir instituições pautadas em modelos de gestão mais biológicos e em níveis mais elevados de consciência. Para governantes genuinamente preocupados com o bem comum e engajados na transformação real de suas cidades, estados ou países. Para estudantes que não se contentam com modelos de educação fragmentados e ultrapassados e buscam uma formação mais sistêmica e completa. Para cidadãos que querem colocar a mão na massa e promover as transformações necessárias, e urgentes, no nosso planeta”.  E, mais adiante, acrescenta:  “Até que ponto nossa sociedade e organizações são norteadas pelo paradigma mecânico, fragmentário, hierárquico, de comando e controle? Como seria nossa evolução se empreendêssemos um amplo processo de mudança cultural e passássemos a vê-las como organismos vivos, compostos por pessoas criativas, inteligentes, capazes de auto-organização e autocontrole? Onde estão os líderes capazes de perceber a importância dessa evolução cultural? E, mais do que isso, onde estão aqueles, ousados e corajosos, capazes efetivamente de fazê-la acontecer, não obstante todos os obstáculos que certamente surgirão?  Até que ponto nossos governantes deveriam evoluir de planos impostos de cima para baixo para um fazer acontecer altamente participativo, estimulado por um propósito nobre, uma visão de futuro inspiradora e princípios éticos que levem a um contexto de total confiança entre as pessoas? Até que ponto deveríamos promover, coletivamente, uma mudança radical de uma cultura de desconfiança, repleta de controles, para outra de confiança plena e alta de solidariedade? “ 
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Maurício Fernandes Leonardo, Lígia Sarmento e "Deus"


Ao término da reunião, o Acadêmico Maurício Fernandes Leonardo leu uma poesia da poetisa Lígia Sarmento, extraída do livro "Deus". Uma forma bastante otimista de enriquecer ainda mais o nosso domingo na Academia.