Extratos da reunião de 14/08/2016

Mesa diretiva, com Pilar Álvares Gonzaga Vieira, 1a. Vice-Presidente,
Leonilda Yvonneti Spina, Presidente e
Maria Lucia Victor Barbosa, 2a. Vice-Presidente

Leitura do Credo Acadêmico pelo
Acadêmico 
Miguel Contani. Ao fundo,
Mestre de Cerimônias
Jonas Rodrigues de Matos


DESTAQUES 



A Prece de um Juiz 
De João Alfredo Medeiros Vieira, juiz catarinense (aposentado), professor e escritor. 
Apresentação pela Acadêmica Leonilda Yvonneti Spina 

Senhor! Eu sou o único ser na Terra 
a quem Tu deste uma parcela da Tua Onipotência:
o poder de condenar ou absolver meus semelhantes.
Diante de mim as pessoas se inclinam;
à minha voz acorrem; à minha palavra obedecem,
ao meu mandado se entregam; ao meu gesto 
se unem, ou se separam, ou se despojam.

Ao meu aceno as portas das prisões 
se fecham às costas do condenado
ou se lhe abrem, um dia,
para a liberdade. O meu veredicto 
pode transformar a pobreza em abastança
e a riqueza em miséria. Da minha decisão
depende o destino de muitas vidas.

Sábios e ignorantes, ricos e pobres, homens
e mulheres, os nascituros, as crianças,
os jovens, os loucos e os moribundos,
todos estão sujeitos, desde o nascimento
até a morte, à Lei, que eu represento
e à Justiça, que eu simbolizo.

Quão pesado e terrível é o fardo 
que puseste nos meus ombros!
Ajuda-me, Senhor!
Faze com que eu seja digno
desta excelsa missão!
Que não me seduza a vaidade 
do cargo, não me invada o orgulho, 
não me atraia a tentação do Mal,
não me fascinem as honrarias,
não me exalcem as glórias vãs.

Unge as minhas mãos, cinge a minha fronte,
bafeja o meu espírito, a fim de que eu seja 
um sacerdote do Direito, que Tu criaste
para a Sociedade Humana. 
Faze da minha toga um manto incorruptível!
E da minha pena não o estilete que fere,
mas a seta que assinala a trajetória
da Lei no caminho da Justiça.
Ajuda-me, Senhor, a ser justo e firme,
honesto e puro, comedido e magnânimo, 
sereno e humilde. Que eu seja implacável 
com o erro, mas compreensivo
com os que erraram. Amigo da Verdade
e guia dos que a procuram.
Aplicador da Lei, mas antes de tudo
cumpridor dela.

Não permitas, jamais, que eu lave
as mãos como Pilatos diante do inocente,
nem atire, como Herodes, sobre os ombros
do oprimido, a túnica do opróbrio.
Que eu não tema César nem, por temor 
dele, pergunte ao poviléu se prefere
“Barrabás ou Jesus”...

Que o meu veredicto não seja o anátema 
candente e sim a mensagem que regenera, 
a voz que conforta, a luz que clareia, a água
que purifica, a semente, que germina, a flor
que nasce no azedume do coração humano. 
Que a minha sentença possa levar consolo 
ao atribulado e alento ao perseguido. 
Que ela possa enxugar as lágrimas
da viúva e o pranto dos órfãos.

E quando diante da cátedra em que me assento 
desfilarem os andrajosos, os miseráveis,
os párias sem fé e sem esperança nos homens,
espezinhados, escorraçados, pisoteados 
e cujas bocas salivam sem ter pão 
e cujos rostos são lavados nas lágrimas
da dor, da humilhação e do desprezo, Ajuda-me,
Senhor, a saciar a sua fome e sede de Justiça!

Ajuda-me, Senhor!
Quando as minhas horas
se povoarem de sombras; 
quando as urzes e os cardos 
do caminho me ferirem os pés;
quando for grande a maldade dos homens; 
quando as labaredas do ódio crepitarem 
e os punhos se erguerem;
quando o maquiavelismo e a solércia
se insinuarem nos caminhos do Bem 
e inverterem as regras da Razão;
quando o tentador ofuscar a minha mente 
e perturbar os meus sentidos,
Ajuda-me, Senhor!

Quando me atormentar a dúvida, 
ilumina o meu espírito;
quando eu vacilar, alenta a minha alma;
quando eu esmorecer, conforta-me;
quando eu tropeçar, ampara-me.

E quando um dia, finalmente,
eu sucumbir e já então,
como réu, comparecer 
à Tua Augusta Presença
para o último Juízo, 
olha compassivo para mim. 
Dita, Senhor a Tua sentença.
Julga-me como Deus...
Eu julguei como homem.


“A Prece de um Juiz” foi traduzida para mais de cinquenta idiomas 
e divulgada em dezenas de jornais, revistas, suplementos, 
antologias, etc., do mundo inteiro.
(Para facilitar a memorização, o texto foi formatado 
como poesia, com permissão do autor.)   
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Prepyat - ainda vida
Poema de Oksana Zabushko, tradução e apresentação pela Acadêmica Ludmila Kloczak 

(Prepyat é uma cidade abandonada na área evacuada ao redor de Tchernobyl, na Ucrânia. Residiam ali os membros do corpo técnico que atuava na usina nuclear. Pripyat é a denominação em russo). 

Pode ser que amanhecia
A luz enrugada como folhas.
O cinzeiro cheio.
Uma sombra multiplica-se nas quatro paredes.
A sala está vazia.
Nenhuma testemunha
Mas alguém esteve aqui.
Um momento atrás duas lágrimas tremeluziram
Na madeira polida.
(Será que um casal vivia aqui?)
No espaldar um paletó, recentemente preenchido por um corpo,
Desmanchava-se num monte. Não há ninguém,
Entre, olhe ao redor os panos.
Somente o sopro de ar, esmagado
Como se por um tanque.
Um sweater meio acabado lembra os dedos de alguém.
Um livro aberto, marcado por uma unha.
Que espantoso, esse silêncio além dos limites
Na madeira polida, duas manchas.
No assoalho sob a cadeira uma maçã,
Mordida mas não escurecida.


Da obra: A kingdom of fallen statues. Ed. Marco Carynnyk. 
Trad. Inglesa Lisa Sapinkoph. Toronto: Wellspring, 1996. (Trad. Livre). 

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Dilemas da maturidade
Apresentação pela Acadêmica Maria Lúcia Victor Barbosa:


Tudo na vida é um processo e, assim, chega um tempo em que a flor vira fruto, que depois amadurece e deixa cair suas sementes para que elas floresçam novamente através do ciclo da vida.
Também, nós, seres humanos, temos nosso período de flor e de fruto quando amadurecemos e espalhamos nossas sementes de experiência para que floresçam através de novas vidas e de novos saberes.
Por isso, quantas vezes nos surpreendemos ao perceber que estamos renovando atitudes, valores, comportamentos que nos foram passados por nossos pais ou, então, são nossos filhos que adaptam o que lhes ensinamos através de ensinamento práticos, de boas ideias, de conselhos, da educação, de tudo que lhes transmitimos não só geneticamente, mas do aspecto cultural que contribui para formação do caráter dos nossos descendentes.
Contudo, não só aos filhos transmitimos nossas sementes de conhecimento e experiência. Quando maduros estamos prontos para semear na sociedade todo o saber acumulado que o tempo cultivou em nosso espírito. Há, porém, algo nem sempre permitido aos mais velhos: usufruir no outono crepuscular de suas existências do conforto, da paz e do reconhecimento antes de mergulhar no sono de inverno que a noite eterna traz consigo. Isto porque, nem sempre a própria família e a sociedade permitem aos menos jovens realizarem as atividades profissionais ou não, que tanto contribuíram para o aperfeiçoamento das futuras gerações.
No Brasil, apesar de certos avanços, ainda existem ideias bastante erradas sobre a questão da idade. Costumamos chamar jovens de 20 anos ou mais de crianças, mas com 35 anos o indivíduo começa a ter alguma dificuldade de acesso ao mercado de trabalho no tocante a concursos públicos e contratações. Depois do cinquenta a pessoa é revistada com olhares quem procuram uma possível invalidez e logo que chega aos sessenta é classificado na tabela da terceira idade quando se supõe que não há mais possibilidade daquele indivíduo produzir.
Portanto, apesar dos avanços da ciência e da medicina que possibilitam agora ao ser humano viver muito mais, somos uma nação na qual se envelhece precocemente do ponto de vista cultural. E pior, a maioria dos idosos não consegue acumular o suficiente par ter uma vida tranquila e digna nem dispor dessa etapa de maneira desejável.
Tudo isso precisa mudar para que o Brasil alcance a idade da razão. É preciso de algum modo integrar o idoso na sociedade. Afinal, como os moços, a pessoa madura tem sonhos e desejos, não servindo apenas para onerar a Previdência Social. O governo, as universidades e outras entidades podem e muito ajudar nesse processo.
Recorde-se, que hoje, 25 milhões de brasileiros, pouco mais de 12% da população estão com 60 anos ou mais. Em 2050 serão 64 milhões ou 30% da população. Ao mesmo tempo a expectativa de vida aumenta e vai saltar de 75 para 81 anos.
É, então, interessante perguntar como vivem hoje as pessoas mais velhas. Antigamente, quando muitos familiares viviam juntos, em geral os idosos eram cuidados em casa e faleciam rodeados por parentes.
Agora, a família nuclear composta do pai, da mãe e de poucos filhos ou nenhum, sendo que, além do marido muitas mulheres trabalham fora. Não existe, portanto, espaço para idosos e muitos preferem sua independência e moram sozinhos, pois sabem perfeitamente como se cuidar.
Aliás, um levantamento feito com 30 000 pessoas em sessenta países, incluindo o Brasil, constatou que um dos maiores medos diante do envelhecimento é a perda de autonomia, o que significa perder a capacidade física e mental, o conforto e depender da família como um fardo.
Nesse caso, ou se contrata cuidadores ou a pessoa vai viver em casas de repouso ou em lugares bem mais agradáveis, como os existentes em São Paulo, onde o idoso encontra companhia e conforto a custos muito altos, inacessíveis a maioria da população, sendo que os mais pobres amargam o fim em asilos.
Já existem cursos de treinamento de cuidadores. E um interessante programa denominado Porteiro Amigo do Idoso, criado em 2010 pelo médico Alexandre Kalache, que já capacitou 1 700 porteiros no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas gerais e Belo Horizonte.
Porém, estamos longe dos condomínios residenciais de alto nível, exclusivos para idosos, como os existentes no exterior. Nesses moldes deverá chegar um em São Paulo, em 2018, da construtora Tecnisa, com 384 apartamentos. O aluguel mensal será aproximadamente de R$ 15.000,00.
Portanto, diante do aumento da expectativa de vida é necessário que as pessoas se preparem para seu amanhã outonal. Também se pense em políticas públicas e programas particulares que possibilitem aos mais velhos, não apenas um fim humanizado, mas um presente com dignidade, respeito e tratamento otimizado do corpo e do espirito.
Muito países alcançaram essa meta. Quem sabe poderemos nos aprimoramos para buscar o mesmo objetivo? Tudo depende de vontade, planejamento, criatividade. E não pode demorar muito, não dá para ficar esperando 2050.
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PALESTRA

Reflexões acerca dos problemas mais frequentes no uso da língua materna
Por Vladimir Moreira *


A palestra-aula, "Reflexões acerca dos problemas mais frequentes no uso da língua materna", teve como objetivo pensar alguns aspectos da estrutura da língua que sempre nos incomodam na hora de falar e, principalmente, na hora de escrever. Dentre os problemas selecionados, primeiramente, revisamos as mudanças do Novo Acordo Ortográfico, uma vez que modificar estruturas da língua já internalizadas é um processo um tanto complicado. No segundo momento da palestra, revisamos alguns elementos da construção textual que podem nos confundir, como por exemplo: "senão e se não", "o mesmo", "pleito e preito"; agradecimento: obrigado, obrigada e variantes", "risco de vida, risco de morte", "confrade, confreira", "a poeta, a poetisa" e outros. Na terceira parte, exercitamos o uso de palavras como: pôr, fazer, ter e coisa, estabelecendo a palavra mais precisa para substituí-las dentro do contexto utilizado. Para encerrar, brincamos com o uso da vírgula.

Prof. Vladimir Moreira recebendo o
Certificado de Participação das mãos da
1a, Vice-Presidente Pilar Álvares Gonzaga Vieira
* Formado em Letras Vernáculas e Clássicas pela UEL. Especialista em Língua Portuguesa  pela UEL. Mestre em Língua Portuguesa pela PUC-SP. Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela USP. Professor no Curso de Letras da UEL, na área de Metodologia e Prática de Ensino de Língua Portuguesa e Literaturas. Coordenador Geral na UEL do Programa de Desenvolvimento Educacional. 







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