Extratos da reunião de 14/05/2017



Mesa diretiva, composta pelo palestrante Prof. Marco Antonio Rossi, 
Acadêmicas Maria Eliana Palma,
Leonilda Yvonneti Spina e Jeanette Monteiro De Cnop

A reunião foi novamente abrilhantada pelo nosso
Mestre de Cerimônias, Jonas Rodrigues de Matos


DESTAQUES ACADÊMICOS
DECLAMAÇÃO
"Estrela-Guia"
Pela Acadêmica Leonilda Yvonneti Spina,
de sua autoria

No laço de fita, a graça da vida
que palpita na alma em flor.
Nas brincadeiras de roda, amarelinha,
a ânsia de abraçar o mundo sozinha.
Vencer os tabus, o pavor do pecado, 
- velhos preconceitos de tempos passados.

Brincar, sorrir, sonhar... 
Antever o amanhã colorindo o horizonte:
- arco-íris embelezando a vida! 

Mais tarde... Jovem em busca do amor.
Sufocados suspiros, segredos, paixão...
(E a árdua conquista da profissão!)

Depois... Mulher e mãe a empreender
dupla jornada! No trabalho, nas lides do lar:
- Regando flores, aquecendo o leite, 
aprontando a merenda, 
ajeitando a gravata do bem-amado. 

Mulher forte, enfrentando vendavais,
oferecendo o ombro amigo, uma palavra
de entusiasmo, compreensão, incentivo.

Espiando a vida passar pela vidraça, 
vê os filhos crescerem e a indesejável 
chegada de inevitáveis cabelos brancos.
O batom, o perfume, a vaidade sempre presente.
O presente de cada dia: a família reunida.

Aos poucos, os filhos alçam voo,
deixando o calor do ninho.
- A tristeza da ausência, a confiança no futuro!

Agora... Feliz, a acariciar os filhos
dos filhos seus, na sublime missão
de todas as mulheres, abençoadas por Deus!

- Angústia ou medo de envelhecer? 
Não! Perceber na presença de cada ruga
(disfarçada é claro, que vaidade é preciso),
um tributo aos bons anos vividos.
Enriquecer-se a cada dia,
acumulando sabedoria.

Desfrutar com prazer a maturidade
e orgulhosamente exclamar:
- Vivi de verdade! Não passei
pela vida, simplesmente... 

Deixarei esta marca, 
o toque de minha passagem:
- A coragem de enfrentar o mundo
com fé, otimismo e alegria. 
Como mulher, mãe, companheira. 
- Farol, leme... Estrela-guia!
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PRESENÇAS ESPECIAIS:
A Presidente da Associação das Academias de Letras, Ciências e 
Artes do Paraná (ALCA), Acadêmica Maria Eliana Palma, 
fazendo uso da palavra

A Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina teve a honra de receber os Acadêmicos Maria Eliana Palma (Presidente da Associação das Academias de Letras,  Ciências e Artes do Paraná - ALCA), Jeanette Monteiro De Cnop, Presidente da Academia de Letras de Maringá (ALM), Artur Palú e José Eduardo Benelli, da Academia de Letras, Artes e Ciências Centro Norte do Paraná.
Maria Eliana Palma falou sobre os projetos da Associação, entre eles, conseguir-se a Declaração de Utilidade Pública, na esfera estadual, a todas as Academias paranaenses, ligadas àquela instituição. Falou também sobre a publicação do histórico das Academias, em que cada entidade informará sobre a sua instalação, as atividades desenvolvidas, relação de titulares, com seus currículos, fotos e textos. Cada Academia lançará seu livro. Ela ressaltou ainda que é necessário haver uma interação entre as Academias do Paraná.

Acadêmicos José Eduardo Benelli, Clodomiro José Bannwart Jr., 
Jeanette Monteiro De Cnop, Maria Eliana Palma,
Leonilda Yvonneti Spina, Neusi Berbel, Aparecida de Fátima Pedrosa Mandelli 
Rosa Maria de Mello Bomfim
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MOMENTO DE ARTE 

Apresentação musical 
Os flautistas Marcos Pelisson, arquiteto, integrante da Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Nívea Nasser, professora de música, especialista em flauta transversal, abrilhantaram nossa reunião, apresentando com flautas transversais músicas eruditas e populares, inclusive "Maringá", de Joubert de Carvalho, em homenagem às ilustres visitantes.

Entrega dos certificados de participação aos dois músicos, Marcos Pelisson e Nívea Nasser,
pelas Acadêmicas Pilar Álvares Gonzaga Vieira e Leonilda Yvonneti Spina
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PALESTRA
A concepção de Esperança em Walter Benjamin
Prof. Marco Antonio Rossi *


Walter Benjamin (1892-1940):
- um pensador ímpar e extremamente paradoxal (que não é mesma coisa que incoerente): materialista e preocupado com questões teológicas; melancólico – distraído, sonhador, coração profético, colecionador de fracassos - e bem-humorado – condição fundamental da dialética e de revitalização da esperança; marxista e ferrenho crítico de uma visão evolucionista da história.
- um sujeito cuja vida pessoal acumulou insucessos e infortúnios: não teve sua obra aceita na universidade alemã, amou uma mulher impossível (Asja Lacis), foi vítima do nazifascismo da intolerância política de seu tempo (e depois dele também).
- era carismático e possuía em si um enorme centro catalisador das diferenças: foi amigo de três grandes personalidades que se odiavam mutuamente – Adorno, Brecht e Scholem).
- era visto com entusiasmo e profundo respeito por autores de espectros ideológicos muito diferentes do seu:
- Hannah Arendt: um homem sensível, de ideias originais e extremamente inteligente, uma raridade em meio a um quinhão de excentricidades
- José Guilherme Merquior: o melhor ensaísta alemão do século XX
- Mario Vargas Llosa: uma mente invejável
- Ernst Bloch: “um pouco palhaço, excêntrico, mas de maneira altamente fecunda”.
- um coração inquieto, uma mente perturbadora: manteve a crença.
- um filósofo que visa uma nova intepretação da história.
- um nostálgico que sonha com o futuro.
- o progresso é uma tempestade que deixa em seu rastro catástrofes permanentes.

Angelus Novus (1920), de Paul Klee, e o “anjo da história”.
“Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso”. (Walter Benjamin, “Obras Escolhidas”, tradução: Sérgio Paulo Rouanet, 1994 – 7.ed. Editora Brasiliense. p.226.)

- Benjamin representa, então, a renovação do marxismo e carrega consigo uma crítica mordaz à suposta “racionalidade do progresso histórico”.
Livro de autoria do palestrante
sobre o tema da palestra
- nas “Teses sobre o Conceito de História”, ilumina o cenário do pensamento crítico do século XX e traz à lume uma enorme variedade de novos temas: a religião, a utopia, a política, a arte, a infância...
- uma frase importante de Benjamin:
“Antes que a centelha chegue à dinamite, é preciso que o pavio que queima seja cortado”. (Rua de mão única).
- combate à concepção de temporalidade abstrata, que vê a história como uma sucessão de eventos sempre em direção a um futuro melhor e acaba desenvolvendo um poderoso fetiche pelo novo.
“Os dominantes do presente são os herdeiros de todos os que, algum dia, venceram [...] Todo aquele que até hoje obteve a vitória caminha junto no cortejo do triunfo que conduz os dominantes em marcha sobre aqueles que, hoje, jazem por terra”.
- o presente, portanto, deve atualizar o passado, arrancando-lhe a tradição do conformismo e dele se apoderando – realizar as ESPERANÇAS PRETÉRITAS.
- o presente, portanto, é uma “seleção de possíveis”, pela qual se interrompe a dominação abstrata do tempo e se permite elaborar um projeto verdadeiramente revolucionário.
- temporalidade messiânica: uma ruptura com o tempo homogêneo do progresso.
- um caso para pensar, hoje, a partir de Benjamin: a questão ambiental.
- um marxista herético (da imprevisibilidade): uma história aberta, na qual o futuro não se concebe antecipadamente
- a DIALÉTICA de Benjamin:

PASSADO (TEMPO-LUGAR DA ORIGEM, ILUMINAÇÃO)
PRESENTE (TEMPO-LUGAR DE ONDE SE VÊ O MUNDO) 
FUTURO (TEMPO-LUGAR QUE SE PODE ALCANÇAR)

- evitar a BARBÁRIE de nossa época (bombas, guerras e genocídios em massa, graças à racionalidade moderna, o aparato tecnológico, a administração burocrática e eficiente de recursos)
- evitar a BARBÁRIE - a prevalência da cultura burguesa (fugaz, supérflua, reificadora): “escova a história a contrapelo”.
Entrega do Certificado de Participação
ao palestrante Prof. Marco Antonio Rossi,
pela Acadêmica Maria Eliana Palma
- a LINGUAGEM: o lugar das ideias (no caso de Benjamin, das mônadas: ideias universais e independentes que definem coisas e evitam que os fenômenos se percam no tempo).
- as ideias não são as coisas, mas fala SOBRE elas: alegorias (representa uma coisa para dar a ideia de outra; “dizer do outro”; fábulas de Esopo; interpretação, narração e intertextualidade)
- Antonio Candido: a ficção nos integra; a capacidade de “fabular”/”alegorizar” (desenvolver imaginação e criatividade) permite que, mais tarde, sejam encontradas na realidade as coisas, as personagens e os cenários apresentados pela literatura.
- ERLEBNIZ: o indivíduo provado, isolado e suas vivências imediatas, descoladas do mundo da vida.
- ERFAHRUNG: o conhecimento adquirido pela experiência que se acumula e se compartilha (a grade “viagem”, a integração sujeito / objeto, a autocrítica, o cuidado com os excessos de pessoalidade e subjetividade narrativas. Ex. “Infância berlinense”).
Remo Bodei: “Benjamin quis pensar as ruínas antes que elas se produzissem”.

Marco Antonio Rossi é sociólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da UEL. É autor dos livros de poesia "Nas ruas do mundo" e "Meu tempo" e recentemente, lançou a obra "Coração de Benjamin", que reúne crônicas redigidas entre 2011 e 2016.