Extratos de nossa reunião de 13/07/2014


Cidadania: o que todo cidadão precisa saber


Leonardo Prota *


O Instituto de Humanidades, entre suas inúmeras publicações sobre cultura geral, deixou-nos um opúscolo muito bem recebido, que leva por título “Cidadania: O que todo cidadão precisa saber”. (Expressão e Cultura; Rio de Janeiro, 2002). Entre os vários assuntos abordados, todos de evidente interesse, trata do seguinte:


 ”Personalidades destacadas no mundo da cultura"
1. Matemáticos, Cientistas e Filósofos 
2. Juristas e Educadores 
3. Músicos e Pintores 
4. Escritores e Poetas.


Vou me deter neste últimos dois tópicos: Músicos e Pintores e Escritores e poetas.


Músicos e Pintores:

 O padre José Maurício (1767-1830) é considerado o iniciador de nossa música sacra. Carlos Gomes(1836-1896)seria contudo o nosso grande músico do século XIX, alcançando renome internacional com a ópera “O Guarani”, encenada em 1870, no famoso La Scala, de Milão, Itália.

No período republicano, pode ser mencionado Leopoldo Miguez (1850-1920),que foi diretor do Instituto Nacional de Música e destacou-se como compositor, contribuindo para estimular várias vocações.

Muitos autores tentaram, na música erudita, inserir temática nacional, entre eles José Siqueira (nascido em 1907); Francisco Mignone (1897-1986) e alguns outros. O mais bem sucedido seria entretanto Heitor Villa-Lobos (1887-1960).

A pintura brasileira começa a ser formada com a vinda da Missão Francesa, no Primeiro Reinado, incumbida de organizar a Escola de Belas Artes. Nessa fase as figura renomadas são autores estrangeiros, como Debret ou Rugendas, que deixaram preciosas coleções de desenhos, retratando aspectos da vida brasileira naquele período. Os criadores da pintura nacional são Pedro Américo (1843-1905) e Vitor Meirelles (1832-1903), que elaboraram grandes painéis, conservados no Museu nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro), cabendo referir, do primeiro, “A batalha de Avaí” e do segundo, “A Passagem de Humaitá, A batalha de Guararapes e a Batalha de Riachuelo”.

Entre os modernos, cumpre mencionar Lazar Segall, Volpi, Tarsilla do Amaral, Santa Rosa, Cândido Portinari e Iberê Camargo.


Escritores e Poetas

Na literatura portuguesa dos primeiro séculos, há muitos nomes de autores nascidos ou ligados ao Brasil, como Gregório de Matos (1623-1696), Matias Aires (1705-1763), e Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) e Tomás Antonio Gonzaga (1744-1810).

Mas, autêntico florescimento dá-se somente com a Escola Romântica que lança o chamado “indianismo”, destinado a exaltar e idealizar os primeiros habitantes do país. Embora extremamente fantasioso, conseguiu popularizar figuras como o índio Peri ( que arrisca a vida para salvar a sua amada branca, Cecília) ou a índia Iracema (“virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que asa da graúna”), personagens de José de Alencar (1829-1877). Domingos de Magalhães (1811-1882) escreveu um poema épico, “A Confederação dos Tamoios”, que imaginava seria um espécie de nascimento do Brasil, a exemplo do que o poema “Os lusíadas”, de Camões, significou para Portugal.


Entre os poetas românticos cabe mencionar Castro Alves (1847-1871), que colocou sua poesia a serviço de causas nobres como a libertação dos escravos.

O maior escritor brasileiro do século XIX e talvez de todos os tempos é entretanto Machado de Assis (1839-1908). Criou inúmeros personagens tipicamente brasileiros.

No século XX, o movimento literário mais importante é o modernismo, que deu grandes poetas, como Manuel Bandeira (1886-1968), Carlos Drummond de Andrade (1902-1968), Jorge de Lima (1893-1953) e Guilherme de Almeida (1890-1969) e grande romancistas e ensaístas, como Mário de Andrade (1893-1945), Plínio Salgado (1895-1975), Menotti Del Pichia (1892-1988) e Tristão de Athayde (1893-1983). Destaca-se do modernismo o chamado romance regionalista com Graciliano Ramos (1892-1953), José Lins do Rego (1901-1957) e Jorge Amado (1912-2010).

* Leonardo Prota é Presidente da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina, filósofo, professor e palestrante
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Declamação pela Acadêmica e poetisa Leonilda Yvonneti Spina:



O Caçador de Esmeraldas
Olavo Bilac
Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada
Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as águas da estação,
- Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata,
À frente dos peões filhos da rude mata,
Fernão Dias Pais Leme entrou pelo sertão.
.....

Sete anos! Combatendo índios, febres, paludes,
Feras, répteis, - contendo os sertanejos rudes,
Dominando o furor da amotinada escolta...
Sete anos!... E ei-lo de volta, enfim, com o seu tesouro!
Com que amor, contra o peito, a sacola de couro
Aperta, a transbordar de pedras verdes! - volta...

Mas num desvão da mata, uma tarde, ao sol posto,
Para. Um frio livor se lhe espalha no rosto...
E a febre! O Vencedor não passará dali!
Na terra que venceu há de cair vencido:
E a febre: é a morte! E o Herói, trôpego e envelhecido,
Roto, e sem forças, cai junto do Guaicuí...

Fernão Dias Pais Leme agoniza. Um lamento
Chora longo, a rolar na longa voz do vento.
Mugem soturnamente as águas. O céu arde.
Trasmonta fulvo o sol. E a natureza assiste,
Na mesma solidão e na mesma hora triste,
À agonia do herói e à agonia da tarde.

Piam perto, na sombra, as aves agoireiras.
Silvam as cobras. Longe, as feras carniceiras
Uivam nas lapas. Desce a noite, como um véu...
Pálido, no palor da luz, o sertanejo
Estorce-se no crebro e derradeiro arquejo.
- Fernão Dias Pais Leme agoniza, e olha o céu.
.....

Adeus, astros da noite! Adeus, frescas ramagens
Que a aurora desmanchava em perfumes selvagens!
Ninhos cantando no ar! Suspensos gineceus
Ressoantes de amor! Outonos benfeitores!
Nuvens e aves, adeus! Adeus, feras e flores!
Fernão Dias Pais Leme espera a morte... Adeus!
.....

E o delírio começa. A mão, que a febre agita,
Ergue-se, treme no ar, sobe, descamba aflita,
Crispa os dedos, e sonda a terra, e escarva o chão:
Sangra as unhas, revolve as raízes, acerta,
Agarra o saco, e apalpa-o, e contra o peito o aperta,
Como para o enterrar dentro do coração.

Ah! mísero demente! o teu tesouro é falso!
Tu caminhaste em vão, por sete anos, no encalço
De uma nuvem falaz, de um sonho malfazejo!
Enganou-te a ambição! mais pobre que um mendigo,
Agonizas, sem luz, sem amor, sem amigo,
.....

Adoça-se-lhe o olhar, num fulgor indeciso:
Leve, na boca aflante, esvoaça-lhe um sorriso...
- E adelgaça-se o véu das sombras. O luar
Abre no horror da noite uma verde clareira.
Como para abraçar a natureza inteira,
Fernão Dias Pais Leme estira os braços no ar.

Verdes, os astros no alto abrem-se em verdes chamas;
Verdes, na verde mata, embalançam-se as ramas;
E flores verdes no ar brandamente se movem;
Chispam verdes fuzis riscando o céu sombrio;
Em esmeraldas flui a água verde do rio,
E do céu, todo verde, as esmeraldas chovem...

E é uma ressurreição! O corpo se levanta:
Nos olhos, já sem luz, a vida exsurge e canta!
E esse destroço humano, esse pouco de pó
Contra a destruição se aferra à vida, e luta,
E treme, e cresce, e brilha, e afia o ouvido, e escuta
A voz, que na solidão só ele escuta, - só:

"Morre! Morrem-te às mãos as pedras desejadas,
Desfeitas como um sonho, e em lodo desmanchadas...
Que importa? dorme em paz, que o teu labor é findo!
Nos campos, no pendor das montanhas fragosas,
Como um grande colar de esmeraldas gloriosas,
As tuas povoações se estenderão fulgindo!
.....

Morre! Germinarão as sagradas sementes
Das gotas de suor, das lágrimas ardentes!
Hão de frutificar as fomes e as vigílias!
E um dia, povoada a terra em que te deitas,
Quando, aos beijos do sol, sobrarem as colheitas,
Quando, aos beijos do amor, crescerem as famílias,

Tu cantarás na voz dos sinos, nas charruas,
No esto da multidão, no tumultuar das ruas,
No clamor do trabalho e nos hinos da paz!
E, subjugando o olvido, através das idades,
Violador de sertões, plantador de cidades,
Dentro do coração da Pátria viverás!"

Cala-se a estranha voz. Dorme de novo tudo.
Agora, a deslizar pelo arvoredo mudo,
Como um choro de prata algente o luar escorre.
E sereno, feliz, no maternal regaço
Da terra, sob a paz estrelada do espaço,
Fernão Dias Pais Leme os olhos cerra. E morre.
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O dito e o não dito: sentidos e contrassentidos na publicidade para idosos

Roberta Maria Garcia Blasque *

De acordo com a Gerontologia, a ciência da velhice, o mesmo indivíduo caracteriza-se por uma contínua renovação. A trajetória do ciclo de vida completo é constituída por fases, cuja interdependência é evidente, ou seja, jamais conseguiremos interpretar determinada etapa sem atravessar as fases que a antecede. Assim, a velhice, por ser o último estágio do ciclo de vida, apresenta interferências de todo um contexto anterior, pois não é uma fase estacionada, mas o resultado de um processo repleto de mudanças.
Embora geralmente relacionada à questão cronológica, a velhice só será passível de interpretação por meio de fatores de natureza biológica, psicológica, social, cultural e histórica, pois as características variam dentro de determinado grupo social. Dessa forma, verificamos a necessidade de ultrapassar o fator cronológico como ponto de referência para o estudo do envelhecimento.
Pensando nisso, a velhice bem-sucedida ou não depende da história de vida do indivíduo, isto é, se o seu patrimônio herdado foi favorável ou desfavorável. Não é válido sempre relacionar a velhice à angústia e ao sofrimento, pois tudo caminha segundo a postura assumida pelo indivíduo. Em suma, constatamos que a Gerontologia apresenta o idoso como um indivíduo ativo e bem-sucedido, caracterizado por aspectos pluridimensionais e pela aceitação de sua idade cronológica, sem desejos de retorno a fases anteriores do ciclo de vida.
Em se tratando do discurso publicitário, forma de comunicação altamente persuasiva, as representações do idoso são muito variadas e pretendem transmitir os mais diferentes valores, positivos ou negativos, otimistas ou pessimistas. Dentre essa gama de temáticas, as propagandas vinculadas à vaidade, especificamente as de cosméticos rejuvenescedores, prometem transformar a aparência física e eliminar os sinais externos do envelhecimento, apresentando-se como “soluções” contra o tempo. Nesse tipo de peça, há uma crítica em ser velho, o correto não é aceitar a velhice, mas negá-la firmemente, visto que a juventude é mais bela, é a melhor fase do ciclo de vida.
Nesse contexto, identificamos um contraste ideológico entre a Publicidade (negar a velhice) e a Gerontologia (aceitar a velhice). Por meio dessa oposição, encontramos subsídios para explorar o contrassentido disseminado ao leitor/consumidor, gerando atribuição de significados às entrelinhas do discurso. Os anúncios publicitários de cosméticos rejuvenescedores transmitem, intencionalmente, determinados efeitos de sentido e valores ideológicos em função de uma ideia negativa da velhice, para que o desejo pelos cosméticos anunciados se acentue. Ao mesmo tempo, há um jogo argumentativo com o uso dos sentidos/ditos e contrassentidos/não ditos subjacentes ao texto, contribuindo para as interpretações preestabelecidas pelos enunciadores.
A batalha de ideologias é aparente, no entanto não podemos determinar a postura ideológica verdadeira e mais correta. Cada área constrói a sua ideologia de acordo com seus objetos. Com base no dia a dia da sociedade, os pressupostos ideológicos da publicidade parecem dominar, pois as propagandas são materiais mais acessíveis ao público, não exigem pesquisas ou leituras específicas, como é o caso da assimilação dos valores gerontológicos.

*Doutoranda do programa de pós-graduação em estudos da linguagem na UEL – Universidade Estadual de Londrina

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